O meu maio materno…

Estes últimos três dias marcaram, cada um deles, datas com significados díspares mas que se complementam na minha vida.
O Dia do Trabalhador tem, para mim, um significado enorme. Não pela relevância política, mas acima de tudo pelo significado do acto de trabalhar, produzir, criar, levar por diante, tudo actos dinâmicos, manisfestações de energia e resiliência. Não o entendo como um negócio, onde existe troca comercial, o trabalho para mim é o que somos por inteiro. Não é a posição ou o cargo que ocupamos, é uma atitude, uma forma de estar. É o que nos torna livres.
Ainda adolescente e em pleno processo de crescimento, a responsabilidade era vaga e portanto, a minha consciência entre a ação e o resultado dessa ação era inócua, talavez como a maioria dos adolescentes ocidentais. Felizmente, nas últimas décadas, a grande maioria dos jovens não passa a adolescência a trabalhar esperando obter um resultado financeiro. Via, porém, a minha mãe a trabalhar, a trablhar muito, ou muitas horas, não sei como media a quantidade de trabalho mas tinha essa noção, que era muito. Talvez porque não a via parar, fosse no seu local de trabalho, fosse em casa e depois no seu local de trabalho novamente, era este o ritmo… Quando já tinha um pouco mais de espírito crítico, insurgia-me e pedia justificações, como se aquilo não fizesse qualquer sentido. Que raio… a minha mãe não tinha mais nada que fazer? Não teria hobbies? Não se cansava? Todo este ritmo pelo dinheiro? Mas nós eramos simples, não nos faltava nada, absolutamente nada… mas pelo dinheiro não seria com certeza.

Ontem, dia 02 de maio de 2020, fui pai. Pai pela quarta vez.
Costumo dizer que dificilmente me veria a partilhar a vida com alguém, quanto mais ser Pai… e quanto mais ser Pai pela quarta vez. Ao meu lado nesta caminhada, está outra mãe, a mãe dos meus filhos.
O meu quarto filho, com a graça de Deus, veio oferecer-me um maio materno. Representará para sempre a força, singularidade, coragem, resiliência, liderança que só as mães têm. Tudo características de grandes trabalhadores/as, de pessoas livres, que escolhem o seu caminho e ultrapassam qualquer obstáculo, individuos valiosíssimos, que por onde passam criam um valor incalculável. Individuos como a minha mãe e a mãe dos meus filhos.

Hoje é o Dia da Mãe.
Deveria ser assim, ponto final parágrafo.
A minha mãe ficou orfã ainda criança, foi criada por uns tios que tinham filhas da mesma idade. Todos nós já vimos a estória da gata borralheira
Casou depois dos trinta e aos quarenta e dois teve o segundo filho. Hoje, tem seis netos, setenta e sete anos, reformada, combate um cancro há mais de quatro anos e continua a trabalhar muito.
A minha mãe, não pará de trabalhar, e só já adulto percebi, que ela não pará de trabalhar porque é inteira e livre assim. Saber respeita-la foi dos actos mais humildes que já tive.

O maio é materno e a ele fica reservado a minha vénia.
As mães serão sempre o expoente máximo de amor, dedicação, santidade e… trabalho.

O Presentismo entrou em crise…

Nunca fui muito de temas de actualidade mas o que estamos a viver ultrapassa qualquer tema mundano. Tudo é uma excepção nestes dias e parece impossível passar ao lado do Covid-19. 

De facto, esta pandemia já alterou por completo o nosso dia a dia, com particular incidência na nossa actividade laboral. De repente o termo tele trabalho salta para tudo o que é noticia, as redes sociais explodem de partilhas caseiras com a temática “Work at home”, muitos softwares de partilha de trabalho são testados pela primeira vez nas organizações, equipas inteiras apercebem-se que é possível “teclar” sem estar por perto e as lideranças são pressionadas a repensar a forma como gerem, mas acima de tudo, como controlam os colaboradores.

Só por si a palavra controlar já me cria uma certa urticária, mas serve bem para o caso, aliás é a palavra certa para definir liderança na grande maioria do nosso tecido empresarial. Ainda somos os chefes e patrões, os manda chuva e capatazes, ainda optamos por mandar e justificamos a autoridade com a hierarquia. É mais fácil e o resultado aparenta ser o mais positivo para a organização. Pessoalmente acredito que também dê um certo gozo a quem usufrui de tal estatuto, não fosse o Ego um animal guloso.

O tema liderança começa a ser recorrente e agarrado a este tema vem o “treino” da liderança, apesar de começar a ser falado e de haver quase mais Coaches do que lideres no mercado, as lideranças das empresas portuguesas continuam a adorar o Presentismo (sim, existe no dicionário português), o acto do colaborador estar presente, não necessariamente estar a produzir, mas estar lá. Ora, por estes dias o Presentismo entrou em crise, e com ele o pânico instalou-se no seio dos lideres e no resultado do controlo das pessoas. 

Como é que é vão saber se as pessoas estão a trabalhar se não as estão a ver? Como é que vão acarretar comandos se não foi possível levantar a voz? Como é que passarão trabalho se não se podem deslocar ao gabinete? Quantas vezes foram à casa de banho? E fumar? Tudo perguntas que representam alimento de poder, que em nada justifica uma boa liderança, ou a capacidade de gerir bem recursos. Autentico sustento de cargos superiores, que há muito já não justifica o que são. Crenças e posturas que inibem o máximo potencial dos recursos e naturalmente, boicotam o valor das organizações. O Presentismo está em crise e esta não é uma crise passageira, veio para ficar, veio desafiar os indivíduos a serem melhores, a aprenderem a procurar resultados concretos, entender a duração das coisas, a aceitar o silencio como máximo poder de comando, a organizar de forma a ajudar, a partilhar os resultados de forma a aumentar o retorno, a modernizarem os métodos… Acima de tudo, a perceber que o Presentismo sempre foi uma falácia corporativa e que o tele trabalho é apenas mais uma forma de laborar.

As ultimas gerações foram educadas a pensar, estão mais preparadas e pensam de forma critica, exigem participar nas organizações, pouco importa onde estão, como o fazem e a que nível o manifestam, eles querem fazer parte de algo e esse algo terá que ser muito superior a um chefe ou director, muito menos serão quatro paredes. Os recursos de hoje, produzem porque acreditam no propósito, e se esse propósito for real e plural, até no cimo de uma árvore prestes a cair serão capazes de entregar a melhor resposta possível ao trabalho proposto… remotamente.