
Geralmente os nossos (de família) sábados começam sempre com uma dúvida terrível… como é que vamos preencher cada minuto das jovens vidas dos nossos filhos. Além das atividades fixas: catequese, escoteiros e algumas festas de aniversário conciliáveis, cada segundo do fim de semana é sofrível ao nível da minha sanidade mental. As justificações são simples, sou muito pouco criativo, dinâmica zero e ainda acredito que entre os 8, 4 e 2 anos já há autonomia suficiente de forma a conseguir usufruir de tempo “livre” para ler três frases de um qualquer pedaço de papel perdido por casa.
Ora, há sempre a mamã e desta vez voltou a brilhar, já que organizou um super fim de semana surpresa no Zmar, no âmbito das atividades abertas da Science 4 You. Um evento de cariz lúdico, com o objectivo de envolver e com o intuito da participação. Para atingir o seu target óbvio, comunicou de forma eficaz, nos vários meios disponíveis e em particular investiu de forma evidente nos “divulgadores” digitais aka influenciadores*.
O propósito do evento parecia-me bastante óbvio, um fim de semana de época baixa, primeiro do mês, num local com condições fantásticas para acolher famílias e a precisar de faturar, uma marca com necessidade de comunicar num pós natal que é sempre duro e uma reação ao pior mês de vendas do ano (fevereiro). À evidente pertinência do evento, acresce o valor aspiracional da presença de vários blogs, contas de instagram e podcasts familiares. Indivíduos estes que participaram na divulgação do evento, propondo ao seus seguidores um fim de semana de experiências cientificas.
Até aqui tudo faz sentido e esta seria sempre uma estratégia vencedora, só que não… como diz o outro. Num plano que foi desenhado e pensado para ser simples, de custo relativamente baixo e com um retorno muito interessante, gerou-se uma amalgama de erros crassos, muito fáceis de ser evitados, mas acima de tudo opções estratégicas que nos dias de hoje já não fazem sentido nenhum. A Science 4 You quis proporcionar um evento aberto, com o Zmar como parceiro, apelou a um conjunto de divulgadores digitais que o divulgassem em troca de um fim de semana em família, aproveitou ainda esta concentração de Feeds para criar um conteúdo interessante e mais um conjunto de partilhas semelhantes, um guião perfeito senão tivesse criado regras distintas entre iguais.
Organizar e comunicar um evento aberto, mas aproveitar para desenvolver uma ação fechada de divulgação digital (influência), onde são antecipadas as ações, feitas as ofertas de produto habitual e proporcionadas melhores condições aos “convidados”, mas coloca-se o consumidor num patamar inferior sem justificação aparente, só pode ter repercussões negativas junto da marca. Era natural que nos primeiros minutos do dia, já existiam manifestações de desagrado, manifestações estas que também são partilháveis e que tem um alcance mais micro, mas talvez mais relevante para a comunidade dos queixosos, do que os posts e stories dos vários divulgadores digitais que possivelmente partilham dos mesmos milhares de seguidores. É difícil de entender que ao dia de hoje, como gestores de marca, ainda se coloque de lado o consumidor, como se não fosse ele o ator principal. Já é tempo das marcas perceberem que os seus maiores embaixadores são os seus consumidores e a advocacia positiva que tanto procuram é junto destes consumidores que a devem trabalhar.
Erros todos cometemos, mas perceber que estas ações não são erros, mas continuas manifestações sexy de gestão de figuras publicas, onde se continua à procura de alcance em troca de géneros e viveres, é deplorável e uma total falta de noção do agora.
*Quero desde já fazer um disclamer sobre esta opinião pessoal. Não tenho qualquer visão pejorativa sobre o termo, até porque no meu dia a dia cruzo-me com divulgadores digitais, simplesmente tenho para mim que influência tem outra dimensão e só está inerente a um conjunto restrito de indivíduos com determinadas características e atributos, que em nada tem a ver com o numero de “contas” que os seguem.