
A nossa evolução como seres racionais está assente na nossa capacidade de criação de cultura. Ao contrário do expontâneo, natural, virgem, o facto de criarmos cultura, dá-nos uma dimensão superior a nível intelectual. A inteligência animal está assente nos seus instintos, e mesmo estes variam de espécie para espécie. Acrescento nesta partilha a inteligência artificial, apenas possível porque nós, humanos, conseguimos entender os mistério dos números e a esses juntamos códigos de letras, originando uma imensidão de caracteres que resultam em automatismos artificiais independentes.
De facto, ao longo da nossa existência, fomos capazes culturalmente de evoluir como seres vivos, construímos, inventámos, resolvemos, curámos, criámos, definimos padrões de vivência individuais, colectivos, globais, cruzámo-nos nas tradições ou evoluímos/progredimos individualmente nas nossas decisões. Em suma, a nossa capacidade de pensar torna-nos responsáveis de nós próprios pela decisão das nossas acções.
Reduzindo estas generalidades para a realidade das últimas décadas, o ritmo de crescimento do conhecimento, a evolução palpável do bem comum e a progressão a que assistimos da multiplicidade de formas de estar, educações, tradições, crenças, a exclusão de tudo e a cada vez menor inclusão, é de tal forma grande que somos desafiados a continuar a crescer culturalmente para tolerar, aceitar, entender e respeitar, toda e qualquer forma de estar.
Hoje, as minorias* vão vencendo batalhas, numa guerra, acredito, que não terá fim, já que algumas “minorias” também são uma forma de estar. Curiosamente, as minorias são arrogantes, não são apenas um conjunto de pessoas, menor em número do que maior, que vivem ou tem a visão de algo diferente da maioria e que portanto expõem-se, exigindo que a maioria os aceite (com todo o direito, diga-se). São arrogantes, porque apelam à tolerância, mas não são tolerantes. É um paradoxo irresponsável, egoísta e que infelizmente tem repercussões para todos, minorias e maiorias. São arrogantes, porque advogam verdades absolutas, exigindo que as maiorias alterem os seus hábitos em nome destas verdades absolutas, mas não conseguem ser tolerantes perante as necessidades absolutas de todos, das minorias e das maiorias. As minorias são arrogantes, porque não se querem vacinar, mas exigem que os omnívoros comam só a parte dos vegetais. As minorias são arrogantes, porque não abdicam da sua crença para um bem maior proporcionando imunidade de grupo, mas afrontam um Deus maior (seja de que religião for). As minorias são arrogantes, porque usufruem do sistema nacional de saúde, mesmo quando contribuem activamente para o mal de todos, não da maioria.
Eu também pertenço a uma minoria, sou cristão, somos muito menos do que o grupo de pessoas que não acredita em Deus nenhum, mas nem por um momento, pelo amor que me é proposto, serei arrogante ao censurar um bem maior. Eu também sou uma minoria e exponho-me a ela, propondo respeito e aceitação, mas jamais “cresço” perante um igual em sinal de superioridade minoritária.
A evolução cultural, acontece porque somos capazes de viver em harmonia, num mundo de diferenças, mas a harmonia é quebrada quando a pequenez e irresponsabilidade é o alicerce das minorias.
*O termo “minoria” é usado às vezes para descrever as relações de poder social entre grupos dominantes e subordinados, e não apenas indicar a variação demográfica dentro de uma população.